A
cientista política potiguar Joluzia Batista, 40 anos, é uma das
colaboradoras da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) que luta pelo
fortalecimento de políticas públicas para mulheres.
A
ativista analisa porque a maior parte dos partidos não tem quadros
femininos para preencher a cota de 30% - determinada por lei - nas
nominatas aos legislativos.
MEL BLEIL GALLO/CFEMEA/DIVULGAÇÃO/JC
Para Joluzia Batista, um dos desafios é ampliar a pauta para além das questões de gênero
Joluzia
explica que a própria estrutura de organização dos partidos se torna
um obstáculo para o ingresso de mulheres, excluindo-as da linha de
frente das disputas internas e direcionando poucos recursos para
investir em suas campanhas. A cientista defende que as legendas
aprimorem a relação com o público feminino e usem mais recursos do fundo
partidário para capacitação dos grupos direcionados às mulheres.
Para
uma mulher se colocar como liderança e disputar a chapa majoritária,
primeiro ela tem que ter uma pauta de disputa ampliada. Uma mulher
nunca vai chegar para disputar uma chapa majoritária com uma agenda
restrita ao mundo das mulheres, dizendo vulgarmente. Tem que pensar o
partido de forma ampla, heterogênea. E os partidos não conseguem
enxergar que elas não podem entrar com essa pauta tão restrita para as
candidaturas majoritárias.
Falta presença das
mulheres nos cargos diretivos ou no próprio Parlamento, seja municipal
ou estadual, que é um ponto limitante. Mas a disputa interna partidária
na composição das chapas é violenta. Muitas vezes lideranças femininas
de bairro se ausentam desse processo. Não é toda mulher que tem o
suporte financeiro, político e, muitas vezes, emocional para aguentar
esse embate partidário na disputa por vagas ou para figurar mesmo nas
chapas majoritárias. É predominante a forma de fazer política muito
masculinizada.
Nessa esfera do âmbito municipal,
as mulheres estão muito submissas ainda a esse cuidar da casa e depois
da vida pública. Isso já vem de muito tempo: o espaço não é nosso, é
uma conquista diária. É interessante observar que nas últimas eleições
municipais algumas prefeitas conseguiram, inclusive, se destacar em
cima desse conflito, pegando como uma oportunidade. Houve até cenas
ridículas, como a de uma candidata que disse que tinha que encerrar o
comício para ir para casa cuidar dos filhos. Para dizer “além de
prefeita sou mãe”, o que mostra que até de forma institucionalizada a
mulher tem que ir acumulando as três jornadas. Isso é uma coisa séria
que temos que combater no campo simbólico. Leva também a achar que
porque a gente cuida bem da família, vai fazer faxinas ou arrumar a
casa no âmbito público, sanear as contas. Tem muito desse imaginário
que também está grudado na presidente. Ainda é muito difícil estarmos
nesses lugares por nós mesmas, por convicção partidária, por ideologia
ou porque somos cidadãs e queremos participar de um projeto.
Nas
próximas eleições teremos que analisar o saldo das anteriores do ponto
de vista das punições e advertências aos partidos que não conseguiram
cumprir com a formação das mulheres. Saber também se os partidos
pensaram na capacitação das mulheres e ainda quantas mulheres negras e
portadoras de necessidades especiais foram incluídas. Poderemos fazer
uma prestação de contas também de quanto do percentual do fundo
partidário foi usado para essa formação.