sábado, 17 de agosto de 2013

Como elaborar um memorial


O QUE E MEMORIAL?

O Memorial se constitui em um exercício de interrogação de nossas experiências passadas para fazer aflorar não só recordações/lembranças, mas também informações que confiram novos sentidos ao nosso presente.

A forma como encaramos certas situações e objetos está impregnada por nossas experiências passadas. Segundo Ecléa Bosi (1979), através da memória, não só o passado emerge, misturando-se com as percepções sobre o presente, como também desloca esse conjunto de impressões construídas pela interação do presente com o passado que passam a ocupar todo o espaço da consciência. O que a autora quer enfatizar é que não existe presente sem passado, ou seja, nossas visões e comportamentos estão marcados pela memória, por eventos e situações vividas. De acordo ainda com essa autora, o passado atua no presente de diversas formas. Uma delas, chamada de memória-hábito, está relacionada com o fato de construirmos e guardarmos esquemas de comportamento dos quais nos valemos muitas vezes na nossa ação cotidiana. 
O Memorial é o resultado de uma narrativa da própria experiência retomada a partir dos fatos significativos que nos vêm à lembrança. Fazer um Memorial consiste, então, em um exercício sistemático de escrever a própria história, rever a própria trajetória de vida e aprofundar a reflexão sobre ela. Esse é um exercício de auto-conhecimento. 
O Memorial está intimamente relacionada a um exercício de reminiscência, isto é, de “puxar pela memória”. Como a memória é seletiva, filtrada pelo que sentimos e acreditamos, queremos que, no momento de elaboração do Memorial do nosso curso, esta seleção torne-se reflexiva. Ou seja, submetida a um exercício que tem como objetivo trabalhar as experiências que a pessoa considera de maior relevância na sua trajetória, relatando-a de modo reflexivo. Pode-se tomar, por exemplo, a ação pastoral e ir desenvolvendo uma reflexão dessa experiência apontando de que modo isso provocou desdobramentos em outras dimensões de sua vida.
Desse modo, uma primeira observação importante a ser feita refere-se à relevância de se estabelecer a diferença entre a técnica de escrita de um Memorial e uma narrativa histórica. 
Uma narrativa histórica tem a preocupação em refazer (contar, narrar) a trajetória de uma pessoa, em um determinado tempo, dos fatos relevantes que vêm à memória do autor. Esta narrativa pode conter diversas passagens da sua trajetória individual no tempo: nascimento, vivência familiar, escola, outros eventos e acontecimentos da vida pessoal mesclados com as dimensões coletivas do bairro, da cidade, do país ou do mundo enfim, de todos os acontecimentos que ocorrem à sua volta. Ou seja, a pessoa descreve esses acontecimentos da forma como eles ocorreram ou como ela os percebeu. 
Já o Memorial é um relato que reconstrói a trajetória pessoal, mas que tem uma dimensão reflexiva, pois implica que quem relata se coloca como sujeito que se auto-interroga e deseja compreender-se como o sujeito de sua própria história. Assim, é um esforço de organização e análise do que vivemos. Esta diferença entre vivência e experiência é importante.
A experiência, ao contrário da vivência,  é refletida, pensada, e pode-se tornar algo consciente que construirá uma nova identidade, ou seja, um outro jeito de olharmos e pensarmos o mundo. Para ilustrar, seria possível dizer que é como olhar a vida através de um “retrovisor”, dando a chance de enxergar determinadas dimensões de nossa vida e refletir criticamente sobre o significado delas em nossa trajetória, tendo como  vantagem o distanciamento temporal. 
No nosso curso, o Memorial será um instrumento através do qual o(a) aluno(a) articula a experiência com suas percepções interiores, pois ele tem como objetivo dar ao(a) aluno(a) uma oportunidade para refletir sobre sua vivência de atuação junto aos movimentos sociais e organizações populares.
Para elaborar o seu Memorial, o(a) aluno(a) deverá levar em conta as condições e situações que envolvem sua trajetória, apresentando as questões que mobilizam sua atenção e evidenciando como elas se originam em sua história. Pelo seu caráter problematizador, reflexivo e sistematizador, o Memorial se constituirá em instrumento que servirá de fio condutor para que o(a) aluno(a), ao longo do curso, reúna elementos para a produção de sua monografia. 
Depois de inscrito no curso, o Memorial deverá ser apresentado por cada candidato(a), contendo de 8 a 10 páginas.
POR QUE UTILIZAREMOS O MEMORIAL COMO FERRAMENTA BÁSICA?
Entendemos que o Memorial tem uma função pedagógica-formativa na medida que o seu processo de elaboração e re-elaboração permite um maior conhecimento do autor por interlocutores.
Passo a Passo do Memorial
·         A primeira versão deverá ter aproximadamente 8 a 10 páginas; 
·         Uma primeira parte, introdutória, em que você se apresenta (de onde vem, qual sua área de atuação, sua entidade, sua intenção). Lembre-se, a intenção é que você reflita sobre o passado para explicar ou problematizar seu presente;
·         Numa segunda parte, descreva as ações sociais em que está envolvido: programas, atividades, objetivos, lutas, conquistas;
·         Numa última parte, problematize essa sua trajetória, destacando obstáculos, dúvidas, temas a serem aprofundados, dilemas pessoais e coletivos;
·         Uma dica: se possível, indique interesses e expectativas em relação ao curso, questões e temas que você gostaria de trabalhar ao longo do curso, pois isto pode auxiliar o seu trabalho. 

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