O QUE E MEMORIAL?
O Memorial se constitui em um exercício de interrogação de nossas
experiências passadas para fazer aflorar não só recordações/lembranças, mas
também informações que confiram novos sentidos ao nosso presente.
A
forma como encaramos certas situações e objetos está impregnada por nossas
experiências passadas. Segundo Ecléa Bosi (1979), através da memória, não só o
passado emerge, misturando-se com as percepções sobre o presente, como também
desloca esse conjunto de impressões construídas pela interação do presente com
o passado que passam a ocupar todo o espaço da consciência. O que a autora quer
enfatizar é que não existe presente sem
passado, ou seja, nossas visões e comportamentos estão marcados pela
memória, por eventos e situações vividas. De acordo ainda com essa autora, o
passado atua no presente de diversas formas. Uma delas, chamada de
memória-hábito, está relacionada com o fato de construirmos e guardarmos
esquemas de comportamento dos quais nos valemos muitas vezes na nossa ação cotidiana.
O
Memorial é o resultado de uma narrativa da própria experiência retomada a
partir dos fatos significativos que nos vêm à lembrança. Fazer um Memorial
consiste, então, em um exercício sistemático de escrever a própria história,
rever a própria trajetória de vida e aprofundar a reflexão sobre ela. Esse é um
exercício de auto-conhecimento.
O
Memorial está intimamente relacionada a um exercício de reminiscência, isto é,
de “puxar pela memória”. Como a memória é seletiva, filtrada pelo que sentimos
e acreditamos, queremos que, no momento de elaboração do Memorial do nosso
curso, esta seleção torne-se reflexiva. Ou seja, submetida a um exercício que
tem como objetivo trabalhar as experiências que a pessoa considera de maior
relevância na sua trajetória, relatando-a de modo reflexivo. Pode-se tomar, por
exemplo, a ação pastoral e ir desenvolvendo uma reflexão dessa experiência
apontando de que modo isso provocou desdobramentos em outras dimensões de sua
vida.
Desse
modo, uma primeira observação importante a ser feita refere-se à relevância de
se estabelecer a diferença entre a técnica de escrita de um Memorial e uma
narrativa histórica.
Uma
narrativa histórica tem a preocupação em refazer (contar, narrar) a trajetória
de uma pessoa, em um determinado tempo, dos fatos relevantes que vêm à memória
do autor. Esta narrativa pode conter diversas passagens da sua trajetória
individual no tempo: nascimento, vivência familiar, escola, outros eventos e
acontecimentos da vida pessoal mesclados com as dimensões coletivas do bairro,
da cidade, do país ou do mundo enfim, de todos os acontecimentos que ocorrem à
sua volta. Ou seja, a pessoa descreve esses acontecimentos da forma como eles
ocorreram ou como ela os percebeu.
Já o Memorial é um relato que reconstrói a trajetória
pessoal, mas que tem uma dimensão reflexiva, pois implica que quem relata se
coloca como sujeito que se auto-interroga e deseja compreender-se como o
sujeito de sua própria história. Assim, é um esforço de
organização e análise do que vivemos. Esta diferença entre vivência e
experiência é importante.
A
experiência, ao contrário da vivência, é
refletida, pensada, e pode-se tornar algo consciente que construirá uma nova
identidade, ou seja, um outro jeito de olharmos e pensarmos o mundo. Para
ilustrar, seria possível dizer que é
como olhar a vida através de um “retrovisor”, dando a chance de enxergar
determinadas dimensões de nossa vida e refletir criticamente sobre o
significado delas em nossa trajetória, tendo como vantagem o distanciamento temporal.
No
nosso curso, o Memorial será um instrumento através do qual o(a) aluno(a)
articula a experiência com suas percepções interiores, pois ele tem como
objetivo dar ao(a) aluno(a) uma oportunidade para refletir sobre sua vivência de atuação junto aos movimentos sociais e organizações
populares.
Para
elaborar o seu Memorial, o(a) aluno(a) deverá levar em conta as condições e
situações que envolvem sua trajetória, apresentando as questões que mobilizam
sua atenção e evidenciando como elas se originam em sua história. Pelo seu caráter problematizador, reflexivo e
sistematizador, o Memorial se constituirá em instrumento que servirá de
fio condutor para que o(a) aluno(a), ao longo do curso, reúna elementos para a
produção de sua monografia.
Depois de inscrito no curso, o Memorial
deverá ser apresentado por cada candidato(a), contendo de 8 a 10 páginas.
POR QUE UTILIZAREMOS O MEMORIAL COMO FERRAMENTA BÁSICA?
Entendemos
que o Memorial tem uma função pedagógica-formativa na medida que o seu processo
de elaboração e re-elaboração permite um maior conhecimento do autor por
interlocutores.
Passo a Passo do Memorial
·
A primeira versão deverá ter aproximadamente 8 a 10 páginas;
·
Uma primeira parte, introdutória, em que você se apresenta (de
onde vem, qual sua área de atuação, sua entidade, sua intenção). Lembre-se, a
intenção é que você reflita sobre o passado para explicar ou problematizar seu
presente;
·
Numa segunda parte, descreva as ações sociais em que está
envolvido: programas, atividades, objetivos, lutas, conquistas;
·
Numa última parte, problematize essa sua trajetória, destacando
obstáculos, dúvidas, temas a serem aprofundados, dilemas pessoais e coletivos;
·
Uma dica: se possível, indique interesses e expectativas em
relação ao curso, questões e temas que você gostaria de trabalhar ao longo do
curso, pois isto pode auxiliar o seu trabalho.
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