Ministério nega que recursos do Mais Médicos seja do Programa Saúde da Família
O
Ministério da Saúde negou que a bolsa de R$ 10 mil paga aos
profissionais inscritos no programa Mais Médicos, do governo federal,
seria descontada dos valores repassados aos municípios no Programa Saúde
da Família. De acordo com a assessoria da pasta, os recursos do Saúde
da Família estão assegurados e continuarão sendo repassados para as
prefeituras. Quanto à bolsa do Mais Médicos, o ministério informa que os
valores serão pagos diretamente para os profissionais, sem repasse aos
municípios e que o dinheiro vem de recursos próprios da pasta
Em audiência pública na segunda-feira na Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), organizada pela
Comissão de Assuntos Municipais e Desenvolvimento Regional, o deputado
federal Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) disse que a bolsa que os médicos
receberão no programa seria descontada do programa Saúde da Família.
O deputado acusa o governo federal de usar trabalho
escravo, referindo-se ao convênio para a vinda dos médicos de Cuba e que
os prefeitos serão responsabilizados por qualquer erro médico que venha
a ser cometido por eles. O Ministério da Saúde esclareceu que a
responsabilidade pelos erros médicos cometidos por estrangeiros será
compartilhada com o brasileiro encarregado da supervisão de seu
trabalho.
A presidente da comissão, a deputada estadual fluminense
Clarissa Garotinho (PR) informou que o Ministério da Saúde foi
convidado a participar do debate, "mas respondeu que não tinha ninguém
capacitado disponível para o dia".
Na audiência, as entidades médicas voltaram a fazer
críticas ao programa. O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de
Janeiro (Sinmed-RJ), Jorge Darze, chamou de "chacota" e "blefe" a
situação jurídica criada pela Medida Provisória (MP) 621, que institui o
programa Mais Médicos. Ele diz que defende a categoria e que não há
condições de trabalho em muitos municípios do País.
"O médico brasileiro tem responsabilidade, nós não somos
curandeiros, não nos preparamos durante seis anos de faculdade, mais
quatro ou cinco de pós-graduação para ficar fazendo trabalho
improvisado. Nos interiores lamentavelmente nós estamos em uma situação
muito difícil, porque as prefeituras não têm recursos para manter o
sistema funcionando de maneira adequada, as secretarias, principalmente
as estaduais, não têm desempenhado o papel de estabelecer regras para
ajudar esses municípios e garantir a assistência da população", disse.
Para Darze, os médicos estão sendo usados como desculpa
pelo governo federal pelo mal funcionamento do Sistema Único de Saúde.
"Então o que sobra é encontrar alguém que seja responsável pela
situação. O que a presidenta Dilma fez foi tentar identificar no médico o
algoz da população, aquele que tem ódio da população, que não quer
tratar da população, como se isso de fato fosse verdade. Esse engodo
merece de todos nós uma resposta dura. Nós queremos médicos no interior,
nós queremos que a população seja atendida, mas que não seja atendida
de qualquer maneira".
O representante do Conselho Regional de Medicina do
Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) Sidnei Ferreira diz que a MP fere a
Lei 3.268, que dispõe sobre os conselhos de medicina e impõe a
revalidação do diploma dos formados no exterior, pois exige que as
entidades concedam o registro provisório para os inscritos no programa
Mais Médicos.
"A medida provisória diz que essas leis não vão ser
usadas. Eu acho então que não é uma medida eleitoreira, isso é um
diploma que o governo federal recebe de todos nós de incompetência,
porque em oito anos de Fernando Henrique, oito anos de Lula e quase
quatro anos de Dilma, nós não temos uma diretriz da saúde pública, da
educação, da habitação, nem transporte. Nós não temos nenhuma diretriz
nacional. E alguém senta e faz essa MP sem discutir com as entidades
médicas, de enfermagem. O que nós lutamos é por um atendimento digno à
população".

ENTENDA O 'MAIS MÉDICOS' |
- Profissionais receberão bolsa de R$ 10 mil, mais ajuda de custo, e farão especialização em atenção básica durante os três anos do programa. |
- As vagas foram oferecidas prioritariamente a médicos brasileiros, interessados em atuar nas regiões onde faltam profissionais. |
- Com o não preenchimento de todas as vagas, o Brasil aceitou a candidaturas de estrangeiros - incluindo convênio com Cuba para a vinda de 4 mil médicos. Eles não precisam passar pela prova de revalidação do diploma |
- O médico estrangeiro vai atuar na região indicada previamente pelo governo federal, seguindo a demanda dos municípios. |
- O programa também prevê a criação de 11,5 mil novas vagas de medicina em universidades federais e 12 mil de residência em todo o País, além da inclusão de um ciclo na residência em que os profissionais atuarão no Sistema Único de Saúde (SUS). |
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